A capital federal, berço das articulações mais intrincadas da República, assistiu a mais um episódio tragicômico no calvário da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). O atual advogado-geral da União (AGU) investiu em um lance de mestre (ou seria de desespero?) ao endereçar um apelo ao Senado, mirando o ministro Gilmar Mendes para que este repensasse a canetada que limitou os pedidos de impeachment contra a cúpula da Corte.
O gesto, que visava demonstrar alinhamento com o humor majoritário do Congresso e, quem sabe, amealhar alguns votos perdidos, esbarrou na muralha da indiferença. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, com a fleuma de quem já viu todos os ballets políticos de Brasília, limitou-se a um lapidar e desolador: “Não vi o documento.”
A resposta de Alcolumbre é mais do que uma simples omissão. É um recado cifrado: a falta de pressa em analisar o documento da AGU reflete a temperatura gelada da articulação pró-Messias na Casa. Afinal, o presidente do Senado tinha o senador Rodrigo Pacheco como seu favorito para a vaga, um detalhe que certamente não facilita a vida do atual AGU.
O tiro no pé de Messias não parou no Salão Azul do Senado. Ele ganhou uma nota de rodapé irônica no gabinete do próprio Gilmar Mendes. Ao negar o pedido de reconsideração, o ministro destacou a estranha pontualidade tardia da AGU. “Após o transcurso de quase 2 (dois) meses do prazo assinalado, o advogado-geral da União manifestou-se nos autos”, frisou Mendes, pontuando que o pedido sequer era um recurso formalmente previsto em lei, tratando-o como um mero “expediente informal.”
A crítica de Gilmar Mendes é uma estocada no coração da estratégia jurídica e política de Messias, sugerindo uma lentidão ou indecisão institucional que se manifesta justamente quando a persona do AGU precisa de tração política.
Como se não bastasse o frio na espinha causado pelos 41 votos ausentes no Senado e a alfinetada de Gilmar, Flávio Dino, ex-colega de Esplanada e notório desafeto na corrida por uma toga no STF, deu o golpe de misericórdia. O ministro classificou como “constrangedor” um acordo costurado pela AGU com a Axia (antiga Eletrobras). A crítica de Dino mirou a inclusão de um polêmico “jabuti” sobre a Eletronuclear no pacto e a falta de consulta aos servidores da empresa.
O cenário é claro: enquanto Jorge Messias se desdobra em malabarismos jurídicos e gestos políticos para provar sua valia ao Senado, o establishment de Brasília o coloca sob um microscópio, onde cada deslize, seja ele um acordo “constrangedor” ou um documento “não visto,” vira munição na batalha por um lugar no STF.
O AGU segue na corda bamba, enfrentando a inércia parlamentar e a ironia dos dinos da Corte.





