Malabarismo jurídico e o senador que “não viu o documento”

​A saga de Jorge Messias no purgatório político de Brasília, onde até o papel timbrado da AGU vira “expediente informal” e o futuro no STF é um placar com 41 desfalques.

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A capital federal, berço das articulações mais intrincadas da República, assistiu a mais um episódio tragicômico no calvário da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal (STF). O atual advogado-geral da União (AGU) investiu em um lance de mestre (ou seria de desespero?) ao endereçar um apelo ao Senado, mirando o ministro Gilmar Mendes para que este repensasse a canetada que limitou os pedidos de impeachment contra a cúpula da Corte.

O gesto, que visava demonstrar alinhamento com o humor majoritário do Congresso e, quem sabe, amealhar alguns votos perdidos, esbarrou na muralha da indiferença. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, com a fleuma de quem já viu todos os ballets políticos de Brasília, limitou-se a um lapidar e desolador: “Não vi o documento.”

A resposta de Alcolumbre é mais do que uma simples omissão. É um recado cifrado: a falta de pressa em analisar o documento da AGU reflete a temperatura gelada da articulação pró-Messias na Casa. Afinal, o presidente do Senado tinha o senador Rodrigo Pacheco como seu favorito para a vaga, um detalhe que certamente não facilita a vida do atual AGU.

O tiro no pé de Messias não parou no Salão Azul do Senado. Ele ganhou uma nota de rodapé irônica no gabinete do próprio Gilmar Mendes. Ao negar o pedido de reconsideração, o ministro destacou a estranha pontualidade tardia da AGU. “Após o transcurso de quase 2 (dois) meses do prazo assinalado, o advogado-geral da União manifestou-se nos autos”, frisou Mendes, pontuando que o pedido sequer era um recurso formalmente previsto em lei, tratando-o como um mero “expediente informal.”

A crítica de Gilmar Mendes é uma estocada no coração da estratégia jurídica e política de Messias, sugerindo uma lentidão ou indecisão institucional que se manifesta justamente quando a persona do AGU precisa de tração política.

Como se não bastasse o frio na espinha causado pelos 41 votos ausentes no Senado e a alfinetada de Gilmar, Flávio Dino, ex-colega de Esplanada e notório desafeto na corrida por uma toga no STF, deu o golpe de misericórdia. O ministro classificou como “constrangedor” um acordo costurado pela AGU com a Axia (antiga Eletrobras). A crítica de Dino mirou a inclusão de um polêmico “jabuti” sobre a Eletronuclear no pacto e a falta de consulta aos servidores da empresa.

O cenário é claro: enquanto Jorge Messias se desdobra em malabarismos jurídicos e gestos políticos para provar sua valia ao Senado, o establishment de Brasília o coloca sob um microscópio, onde cada deslize, seja ele um acordo “constrangedor” ou um documento “não visto,” vira munição na batalha por um lugar no STF.

O AGU segue na corda bamba, enfrentando a inércia parlamentar e a ironia dos dinos da Corte.

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