A cadeia produtiva do setor automotivo brasileiro, a nona maior do mundo, está em estado de alerta máximo. A iminente paralisação das linhas de montagem, que pode se concretizar nas próximas semanas, não decorre de problemas logísticos internos, mas de uma nova escalada na tensão geopolítica global. O epicentro da crise reside na disputa entre Holanda e China envolvendo a Nexperia, uma gigante dos semicondutores controlada por um grupo chinês, responsável por uma fatia expressiva do mercado mundial de chips.
Tudo começou no início do mês, quando o governo holandês tomou o controle da subsidiária local da Nexperia, citando preocupações de segurança nacional. A retaliação de Pequim foi imediata: restrições à exportação de componentes eletrônicos essenciais, travando o suprimento de peças cruciais para a fabricação de veículos em escala global.
No Brasil, que importa a quase totalidade dos semicondutores que utiliza, o risco é de efeito dominó. Os veículos modernos são verdadeiros computadores sobre rodas, exigindo entre mil e três mil chips para funções que vão desde o controle de faróis até sensores de segurança avançados. Sem esses microcomponentes, o planejamento da indústria brasileira de fabricar 2,75 milhões de unidades neste ano pode ser severamente comprometido.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) já manifestou a urgência da situação e buscou diálogo com o governo federal. A entidade alerta para o risco de colapso, revivendo o cenário crítico de 2020-2022, quando a escassez de chips gerou paradas de produção e impactos significativos no emprego e na economia. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) acompanha o caso e afirma estar em contato com as empresas para buscar soluções que minimizem danos à produção e aos postos de trabalho.
Enquanto montadoras de origem chinesa com operação no Brasil, como BYD e GWM, reportam menor risco devido à sua estratégia de integração vertical e produção interna de componentes, as demais empresas do setor temem que a falta de semicondutores básicos afete as linhas de montagem a curto prazo. A crise atual reforça a vulnerabilidade da indústria nacional à concentração do fornecimento asiático e reacende o debate sobre a necessidade estratégica de o Brasil investir na produção local de semicondutores. A esperança agora reside na diplomacia para evitar que um conflito internacional trave de vez o motor da economia automotiva brasileira.





