Erário em doutorado: o custo polêmico da qualificação de elite em Salvador

​Uso de verba pública para cursos privados de alto custo a membros não efetivos do alto escalão municipal acende o debate sobre ética e legalidade.

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​A prefeitura de Salvador se tornou palco de um controverso padrão de gastos: o custeio de formações acadêmicas de alto valor para integrantes do primeiro escalão que não possuem vínculo de carreira com o município. A prática, já recorrente, envolveu nominalmente três figuras proeminentes da gestão do prefeito Bruno Reis: a vice-prefeita e secretária de Cultura, Ana Paula Matos (PDT); a secretária da Fazenda, Giovanna Victer; e a secretária de Desenvolvimento Econômico, Mila Paes Scarton.

​Os valores investidos em cursos de instituições privadas, como o doutorado de R$ 203,9 mil para Ana Paula Matos e o programa de R$ 105 mil da Saint Paul Escola de Negócios para Mila Paes, geraram imediata reação. Enquanto o contrato da vice-prefeita foi suspenso por ordem judicial, obrigando-a à devolução dos recursos, e Giovanna Victer recuou da despesa após a intensa cobertura da imprensa, Mila Paes Scarton, cujo curso incluiu módulos no exterior com o pagamento de diárias, ainda não efetuou o ressarcimento aos cofres públicos.

​A ausência de estabilidade como servidoras concursadas das beneficiadas lança uma sombra sobre a justificativa do investimento, que, legalmente, deveria se concentrar na qualificação de quadros permanentes. Críticos apontam que o custeio da formação de agentes políticos de livre nomeação e em vias de deixar a administração municipal representa um desvio de finalidade do dinheiro do contribuinte.

​O prefeito Bruno Reis defendeu a iniciativa, argumentando a necessidade de reter talentos diante da perda de profissionais qualificados para o setor privado. No entanto, a tese encontra resistência na Câmara e nos órgãos de controle, que veem nos episódios um indício de “Bolsa Privilégio”, como tem sido chamado por parlamentares de oposição. A Procuradoria-Geral do Município e o Ministério Público já foram acionados para investigar a legalidade dos contratos firmados sem licitação, aprofundando o questionamento ético e moral sobre a aplicação de recursos em privilégios individuais.

​A sequência de casos sugere um padrão de comportamento na administração que prioriza a qualificação pessoal de seus indicados em detrimento de investimentos urgentes em áreas como infraestrutura e serviços públicos, tornando o debate sobre transparência e responsabilidade fiscal um tema central na capital baiana.

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