Eixo China-França redefine a indústria de automóveis no Brasil

​Geely adquire fatia na Renault Brasil e transforma Paraná em polo estratégico de carros elétricos.

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​A indústria automotiva brasileira testemunha um movimento sísmico com a conclusão da compra de 26,4% da operação da Renault no país pela chinesa Geely. Mais que uma simples transação societária, o acordo estabelece o Brasil como peça central na aliança global de eletrificação das duas gigantes, prometendo reconfigurar o panorama de produção e distribuição de veículos de baixa e zero emissão.

​O centro da operação está no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR), que se torna o primeiro polo industrial de produção compartilhada no território nacional. Com a injeção de tecnologia da Geely, que detém marcas como Volvo e Lotus e é sócia da Renault na Horse Powertrain, a capacidade produtiva da planta será exponencialmente ampliada, saltando dos atuais 180 mil para um volume potencial de 400 mil veículos anuais. Tal expansão consolida o Paraná como um hub regional de alta tecnologia e exportação para a América do Sul.

​A estratégia é uma resposta direta à crescente demanda por carros híbridos e elétricos e à pressão competitiva imposta por outras montadoras asiáticas. A Renault, ao ceder uma fatia minoritária da subsidiária, garante acesso imediato às plataformas modulares de propulsão elétrica da Geely, acelerando o lançamento de seu portfólio eletrificado. A chinesa, por sua vez, obtém a capilaridade da robusta rede de 250 concessionárias e a experiência de engenharia local da francesa para introduzir seus modelos compactos e híbridos no mercado.

​O novo arranjo empresarial, que prevê a formação de um conselho conjunto e a manutenção da presidência sob a alçada de executivos da Renault, visa uma sinergia inédita: otimizar linhas de montagem, reduzir custos operacionais e encurtar o ciclo de desenvolvimento de novos produtos. O objetivo ambicioso é claro: dobrar a participação de mercado da Renault no Brasil em cinco anos, superando o patamar atual de 5%.

​A fusão de forças tecnológicas, o domínio da Geely em arquitetura de propulsão e o conhecimento industrial e de mercado da Renault, não só fortalece a competitividade da operação brasileira como a alinha às megatendências globais de descarbonização, como a Visão 2030. O Brasil, assim, deixa de ser apenas um mercado para se tornar um laboratório de manufatura digital e plataforma multiproduto de ponta para a transição energética do setor automotivo regional.

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