Dinheiro vivo e o rastro da fraude: cúpula da Câmara de Ipojuca (PE) detida por lavagem

​Prisões em flagrante em supermercado e o avanço da 'Operação Alvitre' contra desvio milionário de emendas

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​A teia de investigações da Operação Alvitre ganhou contornos dramáticos nesta terça-feira (18), culminando na prisão dos dois principais nomes da Câmara Municipal de Ipojuca, no Grande Recife: o presidente, Flávio do Cartório (PSD), e o primeiro vice-presidente, Professor Eduardo (PSD). Os vereadores foram detidos pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil com uma elevada quantia em dinheiro em espécie no estacionamento de um supermercado de Boa Viagem, na Zona Sul da capital.

A Polícia Civil autuou a dupla por lavagem de dinheiro, e as circunstâncias da abordagem sugerem uma tentativa de movimentação de ativos ilícitos. Detalhes do boletim de ocorrência, revelados posteriormente, indicam que a quantia em espécie apreendida com eles ultrapassava os R$ 17 mil, e anotações sugestivas de um possível esquema de “rachadinha” somando R$ 345 mil também foram encontradas, intensificando as suspeitas de que a captura não foi aleatória.

​A prisão em flagrante de Flávio do Cartório, que já era monitorado e possuía um mandado de prisão em aberto, está diretamente ligada à Operação Alvitre. A investigação, que já resultou na deflagração de uma segunda fase, apura o desvio de recursos públicos provenientes de emendas parlamentares impositivas, um mecanismo que, em Ipojuca, movimentou cifras que, segundo algumas apurações, alcançam cerca de R$ 27 milhões a R$ 39 milhões entre 2022 e 2024.

O foco do esquema envolve o direcionamento desses recursos a associações e institutos que, na prática, serviriam como empresas de fachada. O Instituto de Gestão de Políticas Públicas do Nordeste (IGPN) é um dos principais alvos, tendo recebido mais de R$ 6,3 milhões via emendas. As apurações apontam que essas entidades ou careciam de estrutura técnica para a execução dos projetos ou, em casos como o do Instituto Nacional de Ensino, Sociedade e Pesquisa (Inesp), ligado à Faculdade Novo Horizonte, seriam utilizadas para realizar cursos de capacitação com planos de trabalho considerados inconsistentes e orçamentos superfaturados.

A complexidade da rede de desvios já havia levado à prisão de advogadas e de um gestor da Faculdade Novo Horizonte. Outros investigados, incluindo o presidente e o diretor financeiro do IGPN, permanecem foragidos.

Um fato sombrio paira sobre as investigações: o assassinato da professora universitária Simone Marques da Silva, ocorrido em outubro. Simone, que seria ligada a uma das mulheres investigadas, foi morta a tiros horas após comparecer à Delegacia de Porto de Galinhas para depor sobre o caso, embora não tenha sido ouvida formalmente na ocasião. A polícia segue apurando a possível conexão entre o crime e o esquema de corrupção.

Enquanto os vereadores aguardavam depoimento na Central de Plantões da Capital, o PSD de Pernambuco manifestou, por meio de nota, que acompanhará o desenrolar do processo legal para, então, adotar as medidas cabíveis. A Câmara de Ipojuca não se pronunciou sobre o ocorrido. O desdobramento da Operação Alvitre e a prisão de sua cúpula representam um duro golpe na estrutura política local, sinalizando a intensificação do cerco contra a corrupção municipal.

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