Vídeo – Crise logística sob fogo: o vandalismo nos trilhos de Santos

​Onda de ataques criminosos na Baixada Santista transforma ferrovia em cenário de risco, elevando a vulnerabilidade do corredor de escoamento para o maior porto do país.

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​A imagem de treze vagões em chamas, transportando celulose na linha férrea de Cubatão (SP), não é apenas a cena de um incêndio. É a manifestação visível de um colapso sistêmico na segurança da infraestrutura que alimenta o Porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina. O combate ao fogo, que exigiu mais de oito horas de atuação ininterrupta de equipes especializadas e apoio logístico da concessionária Rumo, revela a dificuldade em conter um ciclo de violência que se instalou nos trilhos.

 

​O incidente, ocorrido na noite de quarta-feira, foi classificado pela Rumo Logística como decorrente de atos de vandalismo. A celulose, matéria-prima altamente inflamável destinada à produção de papel e tecidos, exige protocolos rigorosos de transporte. A intervenção para retirar a carga dos vagões e resfriar a composição, ainda que crucial para evitar uma tragédia maior, apenas sublinha a fragilidade operacional imposta pela ação criminosa.

​Este evento não é um ponto fora da curva, mas a intensificação de um padrão alarmante. Os ataques se tornaram uma rotina na Baixada Santista, com registros recentes de um vagão incendiado em São Vicente no início de novembro e uma sequência de cinco investidas em apenas três dias no mês de outubro. O cenário descrito pela concessionária como “crítico de insegurança pública” no trecho entre São Vicente e Cubatão é, na verdade, uma ameaça direta à economia nacional, uma vez que o corredor em questão é vital para o escoamento de commodities e produtos industrializados.

​Os dados de segurança pública e as queixas das operadoras ferroviárias há meses apontam para a ação de organizações que, além do furto de cargas visadas como grãos e combustíveis, utilizam táticas de vandalismo, incluindo a obstrução de vias e a depredação de equipamentos essenciais, como buzinas de locomotivas, para paralisar o tráfego. A complexidade dos crimes sugere que as ferrovias, que deveriam ser um modal estratégico em expansão, estão sendo desprotegidas perante redes criminosas que atuam com organização e armamento pesado.

​A resposta da Rumo, que envolve o registro de boletins de ocorrência, isolamento de áreas e apelos à colaboração popular através de canais de denúncia, demonstra o esgotamento dos mecanismos de segurança privada diante da dimensão do problema. Enquanto a Polícia Ferroviária Federal permanece como uma força constitucionalmente prevista, mas sem plena estruturação e atuação ostensiva, a responsabilidade pela proteção de uma infraestrutura federal de transporte recai sobre um sistema de segurança pública já sobrecarregado.

​É imperativo que o debate se desloque da contagem de vagões atingidos para a necessidade de uma política de segurança pública integrada e especializada para o modal ferroviário. O prejuízo não se resume apenas à celulose queimada; ele se contabiliza no risco à vida dos ferroviários, na sobrecarga das equipes de emergência e, crucialmente, no custo logístico imposto ao país pela vulnerabilidade crônica de seus trilhos. Garantir a integridade da ferrovia é assegurar a fluidez da porta de entrada e saída da economia brasileira.

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