“Cortina de fumaça” ou coincidência de cronogramas?

​Prisão de Bolsonaro no sábado e escândalo financeiro envolvendo o Banco Master agitam o cenário Político-Judicial e redes sociais "pipocam" com comentários de bolsonaristas.

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A manhã do deste sábado (22) trouxe uma reviravolta no já tenso panorama político nacional: a efetivação da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília. A decisão, tomada pelo Ministro Alexandre de Moraes (STF), baseou-se em novos fatos, como o risco iminente de fuga após uma alegada violação da tornozeleira eletrônica. No entanto, o ato gerou uma imediata e intensa onda de ataques de aliados do ex-presidente, que rotularam a prisão como uma “cortina de fumaça” orquestrada para encobrir um escândalo financeiro de grande porte.

O alvo principal da teoria de desvio de atenção é o caso Banco Master, cuja corretora teve a liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central na terça-feira (18), um dia antes da prisão do controlador da instituição, Daniel Vorcaro, durante a Operação Compliance Zero da Polícia Federal. As investigações apuram a emissão de títulos de crédito falsos, com um rombo que pode chegar a R$ 12,2 bilhões, e Vorcaro foi detido sob suspeita de gestão fraudulenta e de tentativa de fuga para o exterior.

A alegação de manobra política ganhou força com a revelação das conexões entre o Banco Master e o núcleo familiar do Ministro relator da prisão. Segundo reportagens, o escritório de advocacia Barci de Moraes, onde atuam a esposa e os filhos de Alexandre de Moraes, foi contratado pelo Master e pela empresa Vorcaro.

​A advogada Viviane Barci de Moraes representou a instituição financeira em ações judiciais, embora o banco não detalhe a natureza ou o montante envolvido nas contratações.

Os ataques bolsonaristas omitem, porém, que o empresário Daniel Vorcaro possuía um extenso e notório leque de relações com políticos de diferentes espectros ideológicos, incluindo o governo atual e figuras do Congresso.

O Banco Master, por sua vez, tinha em seu portfólio uma alta movimentação de precatórios e estava envolvido em negociações que vinham sendo monitoradas por autoridades.

A tentativa de vincular a crise de um banco com ligações transversais na política à prisão de uma figura pública em um processo criminal de natureza totalmente distinta (tentativa de golpe de Estado e violação de medidas cautelares) tornou-se o principal motor de mobilização nas redes bolsonaristas. Posts que compartilham essa narrativa de desvio de foco acumulam centenas de milhares de visualizações desde o ocorrido. O post mais viral sobre o tema foi disseminado pelo Pastor Silas Malafaia, amplificando o debate.

Enquanto a defesa de Bolsonaro classifica a prisão preventiva como “profundamente perplexa” e alega que ela se baseia em uma vigília de orações (direito garantido pela Constituição), a decisão do STF aponta para um risco objetivo. O Ministro Alexandre de Moraes citou: “constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão”, causada pela vigília convocada pelo Senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ).

A simultaneidade dos eventos, a liquidação do Banco Master na terça-feira (18), a prisão de seu controlador no mesmo dia, e a prisão de Bolsonaro no sábado (22) é, para os apoiadores, uma prova de sincronismo suspeito. Para observadores do Judiciário, trata-se de um cronograma processual baseado em fatos novos (violação da tornozeleira) que, acidentalmente, colidiu com a efervescência de um grande escândalo financeiro, onde as acusações de corrupção e gestão fraudulenta já eram monitoradas há meses.

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