Em uma guinada abrupta no tabuleiro político, Ciro Gomes anunciou nesta sexta-feira (17) o fim de seu vínculo com o PDT, partido ao qual estava filiado desde 2015. A saída vinha sendo gestada nos bastidores há meses, impulsionada por divergências com a direção pedetista quanto à aliança com o PT e ao distanciamento de seus antigos posicionamentos críticos.
A carta de desfiliação foi encaminhada à executiva nacional da legenda, presidida por Carlos Lupi e formaliza o rompimento definitivo com uma trajetória marcada por disputas presidenciais e embates internos. Fontes próximas indicam que, já na próxima semana, será anunciada a nova filiação partidária de Ciro, com PSDB e União Brasil entre as opções mais cotadas.
A ruptura não se apoia exclusivamente em divergências pontuais. Analistas interpretam o movimento como um reposicionamento estratégico de Ciro frente à nova configuração da política nacional. Segundo Clarissa Oliveira (CNN), o discurso de afastamento de “comodismos partidários” agora se materializa em ação: o PDT consolidou apoio a Lula e se tornou parte da base governista, o que conflita com a tradição de independência de Ciro.
No Ceará, tensões internas vinham escalando desde disputas regionais e aproximações do partido com o Executivo estadual, liderado pelo PT. Em público, Ciro já havia demonstrado insatisfação com a “burocracia partidária” local e a perda de interlocução política nesse ambiente.
Do ponto de vista simbólico, sua saída marca a ruptura entre o político e o partido que construiu sua mais recente identidade pública. Para aliados, trata-se de uma redefinição de arena política, não uma capitulação. Alguns já falam em “dar vida nova” a seu projeto político, agora sem amarras partidárias.
Embora esteja hoje sem legenda, Ciro já teria recebido convites formais de PSDB, União Brasil e PP. O PSDB surge como possibilidade mais provável, tanto por sua estrutura nacional quanto pelas negociações já em curso: Ciro teria tratado de retorno à sigla em reuniões nos últimos meses. Fontes também mencionam uma cerimônia de filiação já prevista para a próxima semana.
Ciro articula candidatura ao Palácio da Abolição como alternativa ao governador petista Elmano de Freitas. Aliados consideram que sua força regional pode viabilizar o projeto, desde que haja uma base partidária organizada e estrutura local em sintonia.
Apesar de há tempos ter sinalizado desinteresse, a hipótese de ser candidato à presidência da República não está descartada. Pesquisas recentes apontam Ciro em terceiro lugar em cenários de primeiro turno e com vantagem muito reduzida sobre Lula nos cenários de segundo turno. Mesmo assim, o cenário nacional exige alianças fortes e espaço de oxigenação para quem pretende romper com a polarização.
Em alguns levantamentos estaduais (Real Time Big Data), Ciro aparece empatado tecnicamente com Elmano, o que reforça expectativas de que o embate no Ceará será intensamente disputado.
O reposicionamento de Ciro implica riscos elevados. Uma migração partidária mal articulada pode desgastar ainda mais sua imagem, fragmentar apoios regionais e tornar difícil sua estruturação em nível nacional. Além disso, ele enfrenta o legado de alianças rompidas e críticas recorrentes ao “excesso retórico” em sua trajetória, traços que aliados avaliam como obstáculos potenciais.
No PDT, a reação foi de pesar e lamentação. Lupi chegou a chamar o episódio de “dia de tristeza”, destacando que a saída de Ciro representa perda de um “quadro valioso” para a legenda. Ainda assim, afirma que não há rompimento pessoal e que o partido continuará nas disputas de 2026.
Parlamentares do Ceará e aliados regionais manifestaram apoio ao novo ciclo, interpretando a mudança como oportunidade de rearticulações locais mais coerentes. Alguns prefeitos e deputados do PDT local já amenizam a saída como natural e até “positiva” para reordenamento político.
A desfiliação de Ciro do PDT não pode ser vista como mero ato simbólico: trata-se de interrupção de uma etapa de sua carreira e o sinal de que ele aposta em reconstruir seu projeto político sob novas regras. No jogo que se inicia, ele terá de conciliar ruídos nacionais e provinciais, ajustar alianças estratégicas e decidir se move seus passos novamente rumo à disputa presidencial ou se resguarda forças para consolidar seu universo no Ceará.