Enquanto o restante da humanidade se preocupa com os altos custos do aço e o preço do combustível, um estudante de Física da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) decidiu que o problema do transporte moderno era, na verdade, uma crise de imaginação. Entra em cena Hector Diego, um jovem de 19 anos, que com a serenidade de quem está prestes a desafiar a lei da gravidade com um toco de giz, empreendeu a missão de criar uma réplica de motocicleta de “alto padrão”. Sim, a frase está entre aspas e é merecida, feita integralmente de papelão.

O projeto, que consumiu 55 dias de fins de semana e feriados (o tempo que a maioria gasta navegando em redes sociais), é uma aula prática sobre a relatividade dos materiais e a absoluta seriedade com que se deve encarar a arte do inútil. Hector, que concilia a física quântica com o artesanato, não apenas cortou e colou: ele calculou e desenhou a máquina a partir do zero. O rigor da sua formação acadêmica foi transferido para cada milímetro da estrutura de celulose, com o detalhe quase fantasioso de que cada peça foi medida “com o cuidado de quem tinha o objetivo de fazer a moto funcionar de verdade”.

O processo, contudo, é menos sobre o resultado final (uma moto que certamente tem medo de gotículas de orvalho) e mais sobre a celebração da paciência e da exatidão.
Para um físico, a arte não está no material, mas na precisão geométrica. A maestria de Hector reside em tratar um material tão efêmero quanto o papelão com a mesma exatidão que se aplicaria a uma liga metálica de motor. É a paciência do artesão casada com a obsessão do cientista.
Um estudante de Cuité, no interior da Paraíba, mostra que o papelão pode ir muito além do que se imagina. Transformou o material simples em engenhosidade pura, provando que criar é reinventar o óbvio. No fim, o que poderia ser apenas um experimento virou arte — um artesanato preciso, irônico e cheio de engenho.





