Em uma sociedade obcecada pela performance, era inevitável que o pódio dos grandes feitos migrasse do esporte para o colchão. O medicamento que nasceu para tratar disfunções eréteis orgânicas e dar dignidade sexual àqueles que realmente precisavam, a tadalafila, hoje serve a um propósito muito mais fútil e perigoso: garantir um espetáculo sexual quimicamente assistido para a juventude. Assistimos à banalização de uma ferramenta médica, transformada em um mero “upgrade” de balada, um aditivo vendido no boca a boca entre aqueles que, paradoxalmente, deveriam ser o retrato da potência biológica.

A ironia, de fato, é trágica: a corrida por uma rigidez inabalável e duradoura, alimentada pela ansiedade de desempenho e pelos roteiros irreais da pornografia, está pavimentando o caminho para a dependência psicológica. O jovem, que nunca teve problemas funcionais sérios, agora teme falhar na hora de cumprir um ideal de masculinidade hiperperformática. Sem o coadjuvante químico, a insegurança se manifesta, transformando a ereção de um reflexo natural em um ato de fé e o sexo espontâneo em um evento de altíssimo risco emocional. É a mais clara evidência de que a obsessão por “garantir” a noite perfeita está nos roubando a autoconfiança básica.
E enquanto o uso recreativo explode, frequentemente misturado a coquetéis alcoólicos, transformando a pílula num petisco de festa sem o menor respeito pelos riscos cardiovasculares sérios, a conversa sobre os efeitos colaterais fica convenientemente silenciada. Ninguém, nas rodinhas de conversa, menciona a dor de cabeça pulsante, o refluxo ou o perigo real de interações medicamentosas. O foco é apenas na promessa de rigidez, não nas consequências de um priapismo que pode causar danos irreversíveis. O que é vendido como um atalho para a virilidade, portanto, não passa de uma roleta-russa com a pressão arterial.

O perigo mais insidioso, no entanto, jaz no campo da mente. Aquele que se acostuma a performar sob a influência do fármaco corre o sério risco de associar a satisfação e a própria capacidade sexual à ingestão da pílula. Cria-se um círculo vicioso em que a segurança no próprio corpo é substituída pela confiança química. A facilidade com que esses inibidores da PDE5 são obtidos, muitas vezes sem a devida triagem médica, não só desrespeita a farmacologia, como empurra o indivíduo para a disfunção erétil psicogênica. O que começou como um luxo para impressionar, corre o risco de se tornar uma necessidade para funcionar. Aquele “elixir” da noite perfeita pode se revelar o veneno da autoconfiança natural, fazendo com que a próxima geração de “machos” precise de uma muleta química antes mesmo de chegar aos quarenta.





