A marcha das 600 toneladas: o colosso chinês que redesenha o mapa do Sudeste

​Peça industrial destinada à Votorantim Cimentos atravessa o Triângulo Mineiro sob logística de guerra e cronograma estendido até 2026.

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Enquanto o Brasil acelera para o encerramento de 2025, uma operação logística em Minas Gerais parece ignorar o ritmo frenético do calendário. Uma peça industrial de 213 toneladas, o equivalente ao peso de quase 150 carros populares, cruza o Triângulo Mineiro e o Alto Paranaíba em uma jornada que desafia a engenharia de tráfego nacional. O destino final é a unidade da Votorantim Cimentos em Edealina (GO), mas o caminho, iniciado em agosto, tornou-se um exercício de paciência e precisão cirúrgica.

 

O que se vê nas rodovias não é um caminhão comum, mas um ecossistema móvel. A composição, que soma 636 toneladas quando acoplada à carga, estende-se por 123 metros, o comprimento de um campo de futebol oficial e meio. Para sustentar tamanha pressão sobre o asfalto sem comprometer a estrutura das rodovias, o conjunto utiliza 296 pneus distribuídos em 44 eixos, uma configuração necessária para dissipar o peso e evitar danos ao pavimento e às obras de arte (pontes e viadutos) do trajeto.

​• Velocidade de cruzeiro: 20 km/h.

​• Equipe: 6 motoristas em revezamento estratégico.

​• Logística: 4 carretas de alta potência atuando em conjunto.

​Se o planejamento logístico é exato, a meteorologia é o imprevisto soberano. O protocolo de segurança é rígido: neblina ou chuva interrompem o deslocamento imediatamente. Em Monte Carmelo, a carga permaneceu estática por seis dias consecutivos devido ao mau tempo na BR-365.

 

Essa cautela, descrita pelo supervisor da operação, Marcelo Getúlio Roque, como prioridade absoluta sobre a agilidade, empurrou a previsão de chegada, originalmente marcada para antes do Natal, para janeiro de 2026.

O traçado da megacarga é um desvio constante. O comboio já percorreu artérias vitais como a Fernão Dias (BR-381) e a BR-262, fazendo incursões por rodovias estaduais (MG-170 e MGC-354) para contornar gargalos estruturais. Atualmente, o gigante navega pela BR-050, preparando-se para retornar à BR-262 em direção a Campo Florido.

​Para os motoristas que dividem a estrada com o colosso, a operação exige resiliência. Com oito metros de largura, a peça ocupa quase a totalidade da pista, tornando as ultrapassagens proibidas. Para mitigar o represamento do tráfego, a escolta, composta pela Polícia Rodoviária Federal e equipes técnicas das concessionárias, realiza paradas estratégicas de uma hora, duas vezes ao dia, para dar vazão ao fluxo acumulado.

O transporte de cargas superdimensionadas no Brasil é regulado por resoluções do CONTRAN e exige um Estudo de Viabilidade Estrutural (EVE) prévio, garantindo que cada viaduto e ponte suporte a passagem do conjunto sem riscos de colapso.

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