O cenário empresarial brasileiro experimenta uma mudança tectônica impulsionada pela resiliência e visão estratégica feminina. Com mais de 10 milhões de mulheres à frente de seus próprios negócios, representando cerca de 34% dos donos de empreendimentos no país, o movimento vai além da estatística: ele é o motor de crescimento em setores estratégicos, provando que o protagonismo feminino não é apenas uma pauta social, mas uma força transformadora da economia.
Um dos termômetros mais claros dessa potência é o mercado de franchising, onde o segmento de Saúde, Beleza e Bem-Estar (SBB) consolidou sua liderança. Dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e do Sebrae revelam que, somente no segundo trimestre de 2025, o nicho movimentou R$ 18,289 bilhões, registrando uma expansão robusta de 12,5% em comparação ao ano anterior. Ao analisar o ciclo de 2024, a alta chegou a 16,5%, superando consistentemente a média geral do setor e sinalizando uma demanda crescente por serviços integrados e personalizados.
Estratégia e o Mandato da Diferenciação
Para as empresárias que surfam nesta onda, o sucesso é indissociável da estratégia. As sócias-fundadoras de redes especializadas em estética, como a Dra. Carine Amaral e a Dra. Vanessa Farias, concordam que, em um mercado saturado, é imperativo ir além da execução técnica. O foco recai na autenticidade, na importância de aprofundar a precificação, a negociação e o marketing digital, e na construção de “conexões verdadeiras”.
A diferenciação, segundo a Dra. Vanessa, é o ponto central: “Para um negócio de sucesso, o principal é se destacar da multidão, entregar algo inédito e resolutivo, que faça a diferença na vida de cada consumidor.” Esse foco na inovação e na entrega de valor é o que capta clientes e escala a marca de referência. Contudo, empreender no Brasil permanece desafiador, o que ressalta a importância vital de se investir em capacitação contínua, o diferencial que separa quem sobrevive de quem prospera.
A Jornada Dupla e a Quebra de Tabus
O empreendedorismo feminino é também um reflexo da reengenharia social. Estudos mostram que as mulheres representam 43,7% dos Microempreendedores Individuais (MEIs), com a maior concentração na faixa etária entre 30 e 44 anos. Embora muitas sejam mais escolarizadas que seus pares masculinos, a escolha por abrir o próprio negócio frequentemente emerge como uma resposta à falta de flexibilidade e ao preconceito do mercado formal, especialmente ao conciliar a carreira com a sobrecarga da economia do cuidado.
É nesse contexto de desafios estruturais que histórias de disrupção ganham relevância. A engenheira Priscilla Fernandes, fundadora da Atto Service, transformou um negócio sem investimento inicial em uma das empresas mais bem avaliadas do setor no país, atendendo clientes de grande porte. Em um campo onde cerca de 80% dos profissionais são homens, ela provou que competência técnica, visão estratégica e postura assertiva são sinônimos de resultado e inovação.
Sua filosofia de liderança é o novo mantra: “Torne-se excelente. Seja firme nas decisões e lembre-se: ser respeitada é mais importante do que ser aceita.” Ao compartilhar lições de empreendedorismo e liderança, Priscilla sublinha a necessidade de a mulher fazer um esforço maior do que o normal para ser levada a sério, mas mantendo a firmeza sem negligenciar o carinho pela equipe.
O Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, celebrado em 19 de novembro, serve de lembrete de que o apoio e a valorização desse protagonismo são cruciais. Mas o motor da expansão já está ligado. As líderes que estão no topo hoje não pedem permissão; elas demonstram que, com estratégia, capacitação e um mandato inegociável de excelência, é possível redefinir o panorama de negócios e forjar um futuro econômico mais equitativo.
