A imortalidade do camisa 10: o jubileu de ouro de Zico e Sandra no Copacabana Palace

​Entre o protocolo do luxo e o batuque da Portela, o "Galinho" celebra 50 anos de um casamento que resiste à modernidade líquida e ao imediatismo das redes sociais.

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Em uma cidade que devora suas memórias com a mesma velocidade com que troca de técnicos, Zico decidiu subverter a lógica da efemeridade ao celebrar cinquenta anos de um mesmo projeto: seu casamento com Sandra Carvalho de Sá. Na quinta-feira 18), o Copacabana Palace deixou de ser apenas um monumento neoclássico para se transformar no epicentro de uma resistência afetiva, onde o “Galinho de Quintino” provou que sua precisão não se restringia às cobranças de falta, mas também à escolha de quem caminharia ao seu lado por meio século.

 

Entre o tilintar de taças e o brilho dos lustres, a cerimônia de renovação de votos serviu como o aquecimento necessário para uma noite que rapidamente trocou o tom solene pela efervescência de um Maracanã em dia de clássico.

 

Aos 72 anos, o ídolo máximo da Gávea demonstrou que a cartilagem pode até sentir o peso das décadas, mas o carisma permanece em estado bruto. Zico não apenas circulou entre os três filhos e a numerosa descendência de nove netos, como também se permitiu ser o “Rei” acessível de sempre, distribuindo autógrafos em camisas rubro-negras que brotavam entre os trajes de gala como se o salão fosse uma extensão da arquibancada. A presença de celebridades como Juliana Paes e o empresário Eduardo Baptista apenas conferiu o verniz necessário ao evento, que atingiu seu ápice quando a sofisticação do hotel se rendeu ao batuque ancestral da Portela.

 

O que se viu foi uma simbiose cultural harmoniosa, onde Xande de Pilares ditava o ritmo e o anfitrião arriscava passos de samba com a desenvoltura de quem ainda domina o meio-campo.

Enquanto o mestre-sala e a porta-bandeira bailavam sob o teto histórico do Copa, a celebração das Bodas de Ouro desenhava um cenário quase satírico diante da modernidade líquida dos relacionamentos atuais: ali estava um homem que, em tempos de divórcios via redes sociais e contratos de imagem, mantinha o mesmo “passe” há cinco décadas. No final das contas, o jubileu de Zico e Sandra foi menos sobre o luxo protocolar e mais sobre a capacidade disruptiva de ser constante em um mundo que gira rápido demais.

O Galinho, mais uma vez, saiu de campo sem levar cartões, confirmando que a longevidade, quando bem jogada, é o título mais difícil e valioso de se conquistar.

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