A estética do poder na Bahia: o erário no divã da harmonização facial

​Enquanto o país debate o teto de gastos, o deputado baiano José Rocha redefine os limites do reembolso parlamentar ao fundir saúde pública com intervenções de alto luxo.

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A liturgia do cargo político no Brasil acaba de ganhar um novo e controverso capítulo, onde as planilhas de gastos da Câmara dos Deputados cruzam o caminho dos consultórios de estética. José Rocha (União Brasil-BA), parlamentar veterano, tornou-se o centro de um debate ético e financeiro ao submeter notas fiscais que somam R$ 123 mil para custear procedimentos que transitam na zona cinzenta entre a necessidade médica e a vaidade pessoal.

O montante, referente a intervenções realizadas entre 2021 e 2022, inclui um “combo” de rejuvenescimento: rinoplastia (nariz), ritidoplastia (lifting facial) e uma abrangente harmonização dentária. Embora o regimento interno da Câmara preveja o ressarcimento de despesas médico-hospitalares, a inclusão de cirurgias plásticas de caráter puramente estético tensiona a interpretação do uso do dinheiro público.

Dos R$ 123 mil pleiteados, a Câmara dos Deputados autorizou o pagamento de R$ 56 mil. A negativa parcial do órgão sugere um filtro institucional que, embora presente, não apaga o desconforto social gerado pela tentativa de transferir o custo de um “upgrade” visual para o contribuinte.

“O episódio não é apenas uma questão de legalidade técnica, mas de sensibilidade política. Em um cenário de restrição orçamentária, a estética de um parlamentar financiada pelo Estado soa como um anacronismo aristocrático.”

Os Números do Procedimento:

​Total solicitado: R$ 123.000,00

​Procedimentos faciais (Rino e Ritidoplastia): R$ 43.000,00

​Tratamento odontológico: R$ 80.000,00

Valor efetivamente reembolsado: R$ 56.000,00

Este caso reacende a discussão sobre a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP). Especialistas em ética pública questionam se o bem-estar visual de um representante deve ser subsidiado pela sociedade, sob o pretexto de manutenção da saúde, enquanto a maioria da população enfrenta filas para atendimentos básicos.

A “face” do poder, ao que parece, nunca custou tão caro para o bolso do cidadão.

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