O Natal de 2025 apresenta-se como um intrigante fenômeno de física econômica: para cada alívio no prato, há um peso equivalente (ou maior) na etiqueta de presente. Se em dezembro passado o brasileiro olhava para uma garrafa de azeite com a reverência devida a uma joia da coroa, o cenário atual desenha uma trégua inesperada. A inflação dos itens típicos, que em 2024 castigava com uma alta de 4,5%, agora finge-se de morta, estagnada em irrelevantes 0,10%. Mas não se engane: o Papai Noel não virou assistente social; ele apenas mudou as regras do jogo.
O Triunfo do Arroz e a Aristocracia do Pescado

A grande vitória deste ano ocorre na base da pirâmide alimentar. O arroz (-24%) e a batata (-40%) deixaram o posto de vilões para se tornarem os grandes anfitriões da festa. É o ano em que o acompanhamento tem permissão para brilhar mais que o prato principal. Até o azeite, que parecia ter adotado o padrão ouro, recuou 19%, permitindo que a salada volte a ter o brilho que a seca espanhola e a especulação haviam lhe roubado.

Contudo, a harmonia cessa quando chegamos às proteínas. O bacalhau, impulsionado por um câmbio nervoso e uma oferta internacional minguante, aplicou um golpe de 20% no orçamento. Ele tornou-se o item proibitivo, a iguaria que exige uma reunião de condomínio para ser aprovada. Enquanto isso, as carnes bovina e suína, além do frango, mantêm uma trajetória de ascensão (entre 7,5% e 9%), lembrando ao comensal que o churrasco ou o assado de Natal agora custam o preço de uma pequena revisão automotiva.
O Varejo e a Mística do “Vou Levar”

Se na cozinha o cenário é de substituição estratégica, no setor de vestuário a situação é de conformismo caro. O custo dos presentes subiu 1,4%, um número que parece tímido, mas que, somado ao acumulado dos últimos anos, transforma a tradicional “lembrancinha” em um investimento de risco. O destaque fica para o vestuário masculino, que puxou a fila dos reajustes, ironicamente no ano em que o homem brasileiro talvez precisasse de bolsos maiores para carregar a nota fiscal da ceia.
A despeito dos preços, a resiliência do consumo nacional beira o misticismo. A previsão de movimentação de R$ 72 bilhões no comércio, superando os R$ 70 bi do ano anterior, revela que o brasileiro domina uma tecnologia que os economistas de Harvard ainda tentam decifrar: a capacidade de fazer o 13º salário se comportar como uma matéria elástica, capaz de cobrir o IPVA, a matrícula escolar, a ceia inflacionada e o presente da sogra, tudo ao mesmo tempo.
Conclusão: A Calculadora como Enfeite de Árvore

Em última análise, o Natal de 2025 será lembrado como a celebração da compensação. O alívio no custo da batata será prontamente transferido para a camisa polo nova ou para o quilo do pernil. O brasileiro entra em campo com uma estratégia de jogo defensiva: aceita o empate na inflação geral para tentar não perder de goleada no shopping. No fim das contas, entre um gole de espumante e uma garfada de arroz barato, a verdadeira magia do Natal continuará sendo a mesma de sempre: a de fazer as contas baterem antes que os boletos de janeiro comecem a brotar por debaixo da porta.






