A ascensão do salto alto no crime: o novo rosto do narcotráfico na Bahia

​De coadjuvantes a estrategistas, mulheres assumem o comando logístico e financeiro das facções baianas, desafiando a segurança pública com uma gestão de "especialização" e discrição.

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O cenário do crime organizado na Bahia atravessa uma transição de gênero que vai além da ocupação de espaços vazios. Se antes a presença feminina no tráfico era frequentemente vinculada à subalternidade, como o transporte de entorpecentes ou o apoio emocional a lideranças, o panorama atual revela uma mudança qualitativa. Segundo Marcelo Werner, titular da Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), o que se observa agora é a consolidação de mulheres em cargos de alta gestão, movidas por uma espécie de “profissionalização” do crime.

Essa migração para o topo da pirâmide criminal ocorre por dois fatores principais: a vacância deixada por companheiros mortos ou encarcerados e, mais notavelmente, uma especialização técnica. Enquanto o braço armado das facções mantém o perfil masculino e violento, o escalão decisório tem absorvido perfis femininos para coordenar a engenharia financeira e a distribuição interestadual de armamentos.

 

O caso de Pollyanne França Gomes, a “Rainha do Sul”, é o emblema dessa nova era. Advogada de formação, ela não utilizava apenas o status de companheira de uma liderança do Bonde do Maluco (BDM) para exercer influência; ela operava como o cérebro jurídico e logístico da organização. É o crime organizado mimetizando estruturas empresariais, onde a inteligência de mercado e a lavagem de capitais valem tanto, ou mais, que o domínio territorial pela força bruta.

A SSP-BA aponta que esse novo perfil feminino tende a ser mais discreto, o que dificulta a identificação imediata por métodos convencionais de policiamento ostensivo. Por isso, a aposta do estado tem sido o uso intensivo de tecnologia. O sistema de reconhecimento facial, que já superou a marca de 2 mil prisões na Bahia, torna-se uma ferramenta crucial para monitorar alvos que circulam fora dos radares das comunidades periféricas, muitas vezes transitando em ambientes de classe média alta.

Recentemente, a prisão de dez mulheres em uma única operação na última segunda-feira (15) ratifica que o fenômeno não é isolado. Não se trata mais de exceções, mas de uma tendência estrutural. O desafio para a inteligência policial agora é decifrar essa nova gramática do crime, onde o batom e o diploma podem ser as ferramentas de uma gestão criminosa cada vez mais sofisticada e impiedosa.

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