A antecipação de Haddad: estratégia fiscal e o xadrez de 2026

​Ministro da Fazenda sinaliza saída precoce do cargo para preservar rito orçamentário e focar na reeleição de Lula, mantendo suspense sobre pretensões eleitorais próprias.

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Fernando Haddad decidiu não esperar pelo limite do calendário eleitoral. Em um movimento que mistura zelo institucional com pragmatismo político, o titular da Fazenda anunciou que pretende deixar a Esplanada antes de 3 de abril, prazo final para desincompatibilização de quem almeja as urnas em 2026. A justificativa oficial é técnica: permitir que seu sucessor assuma o leme a tempo de formular o primeiro Relatório Bimestral de Receitas e Despesas de 2026 e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2027.

A saída antecipada busca evitar um vácuo de gestão em um momento crítico para as contas públicas. Ao transferir o bastão em março, Haddad assegura que o novo ocupante da cadeira tenha autonomia sobre o projeto da LDO, que deve chegar ao Congresso até 15 de abril. Para o ministro, a transição suave é uma forma de garantir a “consistência interna” entre o que foi planejado e o que será executado, após um ano marcado pela aprovação de medidas de ajuste e pela redução de incentivos fiscais.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante café com jornalistas – Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 

“Não tem como colaborar com a campanha no cargo de ministro da Fazenda”, pontuou Haddad, evidenciando o conflito ético e operacional entre gerir o Tesouro Nacional e atuar na linha de frente da busca por votos.

Embora o anúncio alimente especulações sobre uma candidatura ao Senado ou até mesmo uma composição de chapa majoritária, Haddad mantém o tom enigmático. O argumento central para o desembarque é o desejo de atuar como peça-chave na campanha de reeleição do presidente Lula. O presidente, por sua vez, sinalizou o aval à movimentação, tratando a decisão como uma escolha pessoal do ministro já consolidada.

A manobra ocorre em um cenário de calmaria relativa após a aprovação da LDO de 2026 no início deste mês. Com o arcabouço fiscal sob constante escrutínio do mercado, Haddad opta por uma saída que prioriza a previsibilidade econômica, tentando descolar a gestão do orçamento da volatilidade inerente ao período eleitoral que se aproxima.

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