A Justiça da Paraíba tornou pública, nesta segunda-feira (1º), a sentença que determinaria a internação psiquiátrica de Gerson de Melo Machado, conhecido como “Vaqueirinho”, de 19 anos. A publicação, contudo, ocorreu um dia após sua morte trágica: no domingo (30), Gerson invadiu o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, sendo atacado pelo animal.
O lapso temporal entre a assinatura da decisão, datada de 30 de outubro de 2025, e sua concretização póstuma, em 1º de dezembro, desenha um cenário de ineficácia da rede de proteção social e de saúde mental.
O magistrado responsável reconheceu o diagnóstico de esquizofrenia em Gerson e sua alta periculosidade, atestada por laudo psiquiátrico. O documento descrevia episódios frequentes de comportamento desorientado e agressivo, como “subir em telhados, colocar em risco sua integridade física e a de terceiros”.
A decisão judicial previa a internação compulsória, por até um ano, em um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), uma estrutura destinada a pessoas com transtornos mentais que cometeram atos ilícitos. A Justiça havia sido clara ao considerar o tratamento ambulatorial “insuficiente” diante da gravidade do quadro do jovem, que, segundo o laudo, era inteiramente incapaz de compreender o caráter ilícito de seus atos.
O caso de Gerson revela uma história de abandono e vulnerabilidade crônica, conhecida pela Rede de Proteção. Fontes ligadas à área social indicam que o jovem, filho de mãe esquizofrênica, vivia em extrema pobreza e possuía um significativo atraso cognitivo, apesar dos 19 anos. Ele colecionava passagens por instituições socioeducativas e buscava refúgio até mesmo em complexos psiquiátricos, um reflexo do desamparo social.
A tragédia no Parque Arruda Câmara, onde Gerson escalou as estruturas de segurança para acessar a jaula da leoa, evidencia um desfecho lamentável para um indivíduo que, segundo o Judiciário, precisava urgentemente de um ambiente de custódia e tratamento.
A sentença tardiamente publicada, que determinava a expedição imediata da guia de internação e o acompanhamento por equipe multiprofissional, atesta que o sistema de justiça e saúde falhou em agir com a celeridade que a situação exigia.
O evento trágico se torna um símbolo pungente da fragilidade da política antimanicomial e da insuficiência de leitos e equipes multidisciplinares em Hospitais de Custódia e na rede de saúde mental em geral. A morte de “Vaqueirinho” com a ordem de tratamento em mãos joga luz sobre o dilema nacional de como tratar e proteger indivíduos com transtornos mentais em conflito com a lei ou em situação de risco, antes que o desfecho seja irremediável.





