A prisão preventiva do ex-presidente reacendeu, como um fósforo aceso em pólvora úmida, a mobilização do Partido Liberal (PL) e da família pelo projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. “Objetivo único”, bradou o Senador Flávio Bolsonaro, transformando a Câmara dos Deputados no cenário de uma tragicomédia política. Contudo, o que parecia um impulso para a pauta encontrou um muro de cautela no Centrão, notoriamente avesso a abraçar causas de alto risco institucional sem garantia de sucesso.
O fator mais recente a esfriar o ânimo parlamentar, paradoxalmente, foi o próprio ex-presidente. O vídeo da violação da tornozeleira eletrônica, onde o político, em um arroubo de “curiosidade”, teria tentado romper o equipamento com um “ferro de soldar”, atuou como um inesperado e poderoso repelente político. A confissão sui generis enfraqueceu a narrativa da “perseguição” e transformou o ex-mandatário de vítima em réu contumaz.
Nos bastidores de siglas como PP, União Brasil, Republicanos, PSD e MDB, a avaliação é cristalina: não há clima para desafiar o Supremo Tribunal Federal (STF) com um perdão geral, tampouco votos suficientes para aprová-lo no plenário. Dirigentes do PP falam em “condições políticas mínimas” inexistentes. Parlamentares do União Brasil veem na discussão um confronto inútil, enquanto o MDB prefere manter distância dessa agenda polarizada, vista como uma “aventura irresponsável” pela base governista.
O presidente da Câmara, que chegou a manifestar solidariedade, mantém o projeto de anistia fora da pauta, sob a condição de consenso, algo tão improvável quanto o ex-presidente explicar o uso do ferro de solda. A atitude de Arthur Lira (PP-AL), que alguns interpretaram como um sinal verde, foi rapidamente rebaixada por seus aliados ao status de gesto simbólico, um afago para manter a tropa bolsonarista minimamente disciplinada.
Enquanto a anistia agoniza, a prisão acelerou um movimento mais estratégico no Centrão: a busca por um novo nome para 2026. O episódio da tornozeleira fragilizou a imagem do ex-presidente, mas seu capital político como “grande eleitor” da direita permanece, embora com data de validade cada vez mais incerta.
A preferência dos caciques é clara: forçar o ex-presidente, mesmo detido, a endossar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). O movimento é uma tentativa pragmática de unificar o campo e evitar a pulverização do eleitorado de direita. Tarcísio, embora fiel, corre o risco de “queimar a largada” com um endosso precoce.
No final das contas, o Centrão, mestre na arte da sobrevivência, não vai trocar a estabilidade institucional por uma cruzada que, além de polarizada, parece naufragar na inabilidade do seu principal defensor. O “perdão” está engavetado, a cautela venceu a militância, e a direita agora se reorganiza em torno de um novo dilema: quem herda a bússola (e o ferro de solda) do ex-presidente na corrida presidencial.





