O Palácio do Planalto atravessa um momento de extrema vulnerabilidade política após a oficialização de um duplo rompimento no centro do poder legislativo. A decisão dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados de cortar o diálogo com líderes-chave do governo demarca não apenas o desgaste das relações pessoais, mas um profundo esgotamento na capacidade de articulação entre o Executivo e o Congresso Nacional.
No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) anunciou o encerramento da interlocução direta com o líder do governo na Casa, Jaques Wagner (PT-BA). Embora o mal-estar fosse crescente, a crise escalou após tensões relacionadas à gestão de indicações de alto escalão, culminando em uma postura de maior autonomia por parte de Alcolumbre e acentuando a dificuldade do Planalto em conduzir matérias sensíveis na Casa revisora.
A crise se replicou na Câmara, com o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) declarando o fim da relação com o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ). O catalisador desta ruptura é o reiterado recurso do petista à judicialização de decisões tomadas pelos deputados. Apelidado de forma jocosa, mas sintomática, de “procurador da Câmara” nos corredores do Legislativo, Lindbergh encarnava, na visão de Motta e de sua base, uma disputa institucional que minava a autoridade e a soberania do Poder. Esta fricção se manifestou de forma intensa em debates recentes sobre projetos de interesse governista, onde a base do Planalto experimentou derrotas significativas.
O timing deste afastamento não é fortuito. O enfraquecimento da ponte entre o governo e a cúpula do Congresso ocorre meros dois dias após a prisão em regime fechado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado por tentativa de golpe de Estado. O vácuo de articulação se transforma imediatamente em uma ameaça legislativa.
O Partido Liberal (PL), principal força de oposição, mobilizou sua bancada para debater os passos imediatos. O foco central é a articulação de medidas que possam beneficiar Bolsonaro e os demais condenados pelos atos de janeiro. A pauta da anistia, que vinha perdendo tração diante da ausência de respaldo da opinião pública e da incerteza sobre sua viabilidade jurídica, ganha novo impulso retórico em meio à crise institucional.
Com os canais de negociação diretos fragilizados, o governo encontra-se em uma posição defensiva. O debate sobre uma eventual anistia, ou a aprovação de projetos de dosimetria que poderiam mitigar penas, passará a ser conduzido em um ambiente legislativo menos permeável aos interesses do Planalto. A resistência à ofensiva da oposição dependerá agora de uma reorganização urgente da base aliada e de uma estratégia de contraponto que se mostre mais eficaz do que a diplomacia interna que acaba de ruir. O silêncio momentâneo de Lindbergh Farias, por meio de sua assessoria, apenas sublinha a gravidade da conjuntura, onde o jogo político recém-iniciado terá como palco um Congresso em estado de ebulição.





