Jimmy Cliff, a voz que abriu caminhos para o reggae, morre aos 81 anos

Lenda jamaicana morreu após uma convulsão seguida de pneumonia; artista teve passagem marcante pelo Brasil, onde viveu, gravou e viu o nascimento de uma de suas filhas.

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Jimmy Cliff, um dos arquitetos do reggae no cenário mundial, morreu nesta segunda-feira (24), aos 81 anos, em Kingston. A confirmação veio por meio de uma publicação assinada por sua esposa, Latifa, no perfil oficial do artista no Instagram. Segundo ela, o cantor sofreu uma convulsão que evoluiu para um quadro de pneumonia.

Nascido James Chambers em 1944, na pequena Somerton, Jamaica, Cliff começou cedo a se projetar como um talento singular. Aos 14 anos, já emplacava “Hurricane Hattie”, sucesso que chamou a atenção de produtores e abriu as portas para sua trajetória internacional. Nos anos 1960, ele se mudou para Londres e assinou com a Island Records, consolidando-se como um dos nomes mais inventivos da música jamaicana ao incorporar soul, ska e r&B ao reggae nascente.

 

A consagração global veio em 1972, quando protagonizou o filme The Harder They Come. A trilha, recheada por canções como “Many Rivers to Cross” e “Sitting in Limbo”, tornou-se um divisor de águas e apresentou o reggae ao grande público muito antes de o gênero alcançar status de fenômeno mundial.

 

A discografia de Cliff atravessa décadas e saltos estilísticos. Lançou álbuns que se tornaram referências, como Hard Road to Travel, Wonderful World, Beautiful People, Special e Rebirth, este último, de 2012, produzido por Tim Armstrong e vencedor do Grammy de Melhor Álbum de Reggae. Sua importância também foi reconhecida pelo Rock and Roll Hall of Fame, que o introduziu em 2010, e pelo governo jamaicano, que lhe concedeu a Ordem do Mérito.

 

O Brasil ocupa um capítulo especial em sua história. Cliff desembarcou no país pela primeira vez em 1968, no Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro, onde apresentou “Waterfall”. A relação, que começou como visita, virou convivência: ele morou na Bahia, gravou Jimmy Cliff in Brazil pela Som Livre e participou do álbum Breakout, do Cidade Negra, na Costa do Sauípe. Também fez turnês, dividiu palco com Gilberto Gil e tornou-se presença constante na música brasileira naquele período. Uma de suas filhas, Lilty, nasceu em solo brasileiro, fruto dessa ligação afetiva que o cantor sempre manteve com o país.

 

A notícia da morte repercutiu entre músicos, fãs e admiradores mundo afora. A família pediu privacidade, mas deixou claro que celebra a magnitude da obra construída ao longo de mais de seis décadas. Jimmy Cliff deixa um legado que ultrapassa as fronteiras do reggae. Sua música atravessou oceanos, transformou cenas culturais e fez do gênero jamaicano um idioma universal, desses que não precisam de tradução para alcançar quem escuta.

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