O Ceará, estado historicamente vulnerável à seca, dá um passo decisivo em sua segurança hídrica com o início iminente das obras da Dessal Ceará, a maior planta de dessalinização de água do mar do Brasil, localizada na Praia do Futuro, em Fortaleza.
Após meses de ajustes e debates, principalmente relacionados à proteção dos cabos submarinos de telecomunicações que chegam à costa, o projeto obteve a Licença de Instalação (LI) da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) em setembro de 2025 e foi desenvolvida em modelo de Parceria Público-Privada (PPP) com o consórcio Águas de Fortaleza, formado pelas empresas Marquise, PB Construções e Abengoa Água. A iniciativa representa um investimento de aproximadamente R$ 3,1 bilhões ao longo de 30 anos e tem previsão de operação plena entre 2027 e 2028.

A tecnologia empregada na usina é a osmose reversa, um método que responde por cerca de 80% da dessalinização mundial. O processo é um primor da engenharia: a água do mar é forçada através de membranas semipermeáveis sob pressão de até 60 bar, equivalente a cerca de 870 PSI (libras por polegada quadrada), separando as moléculas de água dos sais dissolvidos.
A usina está projetada para entregar 1 metro cúbico de água potável por segundo, o que equivale a expressivos 86,4 milhões de litros por dia. Este volume colossal beneficiará diretamente cerca de 720 mil habitantes na Região Metropolitana de Fortaleza, elevando a oferta de água tratada para a capital em aproximadamente 12%. Isso estabelece uma nova camada de independência, reduzindo a pressão sobre os reservatórios do interior, sujeitos às incertezas das chuvas.

O ciclo de transformação da água do mar em potável é meticuloso e segue protocolos ambientais estritos:
● Captação Submersa: A retirada da água acontece por tubulações em pontos afastados da costa, minimizando o impacto à vida marinha.
● Pré-tratamento Avançado: Antes da osmose, a água passa por uma filtragem em grades e leitos de areia, além da adição de coagulantes e desinfetantes. Essa etapa é vital para proteger as membranas de alta pressão de danos por partículas e microrganismos.
● Gestão da Salmoura: A água altamente concentrada em sal (o rejeito do processo) recebe diluição controlada e é devolvida ao oceano em áreas com dispersão adequada, conforme as 65 condicionantes impostas pela Semace, que exigem monitoramento contínuo para evitar alterações na salinidade local.
● Pós-tratamento e Qualidade: A água pura resultante da osmose reversa é remineralizada com cálcio e magnésio, além de receber cloração final e correção de pH. Este pós-tratamento garante que o produto final não apenas atenda aos padrões de potabilidade, mas também tenha um sabor adequado para consumo humano.
A Dessal Ceará é uma solução de superação climática para uma capital que historicamente importa a maior parte de seu abastecimento de mananciais distantes. Ao diversificar a matriz hídrica e integrar o oceano como uma fonte alternativa e inesgotável, o projeto alinha o Nordeste brasileiro às estratégias globais adotadas por nações com escassez hídrica, como Israel, país que serviu de referência técnica para o aprimoramento do projeto cearense.
A implantação da usina marca a mudança do Ceará: de pioneiro na dessalinização em pequena escala, usada principalmente no interior, o estado passa a aplicar a tecnologia em nível urbano e metropolitano. Com isso, o mar se torna um aliado estratégico no enfrentamento da seca e o projeto vira uma referência para outras capitais costeiras do Brasil.





