Muitos desconhecem o nome de Agustín Carstens, mas a influência do economista mexicano ressoa no centro do sistema financeiro internacional. Desde dezembro de 2017, Carstens ocupa a posição de diretor-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), a discreta instituição sediada em Basileia, Suíça, frequentemente referida como o “Banco Central dos Bancos Centrais”.

O BIS, fundado em 1930, atua como um fórum de cooperação e um facilitador de operações para mais de 60 bancos centrais ao redor do mundo, cujos países representam cerca de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) global. Sua missão primordial é fomentar a estabilidade monetária e financeira global. Embora não seja sujeito à fiscalização de uma única entidade reguladora nacional, o BIS exerce um papel fundamental na definição de normas e padrões globais de regulamentação financeira, um conjunto de regras que, embora tecnicamente não obrigatório, costuma ser incorporado pelas legislações internas dos países membros para garantir a solidez do sistema.
A atuação do BIS abrange discussões e diretrizes sobre políticas macroeconômicas de vasto alcance, como a gestão da inflação e a política de taxas de juros, além de protocolos essenciais para a saúde sistêmica, como as diretrizes para resgates bancários em momentos de crise.

Atualmente, o foco da instituição e de seu líder está direcionado para o futuro da moeda: as Moedas Digitais de Bancos Centrais, ou CBDCs (Central Bank Digital Currencies). O BIS tem sido um proponente ativo no desenvolvimento e estudo dessas moedas, que representam a versão digitalizada da moeda oficial de um país, emitida e garantida pelo banco central. Mais de 90% dos bancos centrais globais estão atualmente envolvidos em projetos ou estudos de CBDCs, um reflexo direto da crescente pressão por inovação e digitalização.
A transição para as CBDCs é encarada por Carstens e o BIS como um avanço na segurança, eficiência e inclusão financeira. Contudo, essa mudança tecnológica carrega consigo um debate complexo sobre a natureza do dinheiro e a liberdade individual.

Em diversas ocasiões, Agustín Carstens tem abordado o potencial que as CBDCs oferecem aos governos e bancos centrais para obter um controle mais granular sobre o sistema de transações. Ele argumenta que essa capacidade aprimorada de monitoramento e de implementação de políticas específicas é, em parte, uma ferramenta de combate à lavagem de dinheiro e à evasão fiscal, ao mesmo tempo que permite intervenções mais cirúrgicas na política monetária. No entanto, críticos e defensores da privacidade alertam que tal nível de controle pode abrir precedentes para uma vigilância financeira sem precedentes e a possibilidade de programar restrições no uso do dinheiro digital.
O avanço das CBDCs sob a égide do BIS sinaliza uma transformação profunda, onde a tecnologia redefine não apenas a forma como pagamos, mas também a dinâmica de poder entre as autoridades monetárias e os cidadãos. A era do dinheiro digital centralizado está em curso, moldada por uma instituição discreta e um intelectual que compreende a arquitetura financeira global.





