No Dia de Finados, os cemitérios de João Pessoa ganham vida, uma vida efêmera, colorida e perfumada. As alamedas de túmulos se transformam em corredores de flores, onde o silêncio se mistura ao burburinho dos vendedores. Entre crisântemos, copos-de-leite e rosas embaladas em plástico transparente, o comércio se torna o fio que costura a memória e o consumo. A cena se repete ano após ano: famílias chegam com baldes d’água, limpam as lápides, acendem velas e depositam flores frescas sobre as lembranças de quem partiu. E, ao redor, um exército de ambulantes aproveita a tradição que resiste ao tempo e garante o sustento de muita gente.
A origem desse gesto vem de longe. Na Grécia Antiga, flores eram oferendas aos deuses; no Egito, símbolos de renascimento deixados junto aos mortos. Durante a era vitoriana, o ato de presentear flores se transformou em uma linguagem própria, cada espécie carregava um significado, um recado silencioso. Com o passar dos séculos, o simbolismo atravessou oceanos, adaptou-se às religiões, e no Brasil encontrou terreno fértil nas datas religiosas, sobretudo no Dia de Finados. O gesto de levar flores aos cemitérios tornou-se uma forma de dizer o indizível: saudade, amor, ausência.

Hoje, o costume carrega também uma dimensão econômica. Floristas e ambulantes se organizam com antecedência, compram em atacado, montam barracas improvisadas nas portas dos cemitérios e, por um ou dois dias, veem o lucro florescer em meio à dor alheia. A tradição virou negócio e um negócio legítimo, movido por um calendário emocional.

Em João Pessoa, a Prefeitura libera o comércio temporário e reforça a limpeza e a segurança nos cemitérios, enquanto as floriculturas da cidade ampliam estoques e horários.
Há quem veja nisso uma contradição: o luto transformado em oportunidade de venda. Mas talvez o comércio das flores diga mais sobre a natureza humana do que parece. A flor, que nasce para morrer, carrega a mesma transitoriedade da vida que homenageia. E, de alguma forma, comprar uma flor, ainda que por impulso ou tradição, é insistir em um tipo de continuidade: a de lembrar.
No fim, o gesto é o mesmo desde a antiguidade, apenas embalado em novos tempos. Entre o sagrado e o pragmático, entre a saudade e o lucro, o mercado das flores continua florescendo, firme, sobre o chão de mármore e memória.





