Cabeça de Santo Antônio: símbolo inacabado que une fé, arte e memória em Caridade (CE)

Obra inacabada e ousada, a cabeça gigante de Santo Antônio se firma como marco cultural e místico, na espera por um novo projeto que renove a fé e o turismo em Caridade.

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A cerca de 95 km de Fortaleza, no município de Caridade, há quase quatro décadas, uma estátua inacabada de Santo Antônio tornou-se mais que obra abandonada: é ponto de devoção, atração turística e inspiração cultural. Projetada nos anos 1980 para impulsionar o turismo religioso, a estátua permanece com seu corpo erguido no Morro do Serrote do Cágado enquanto sua cabeça de concreto, separada por cerca de três quilômetros, repousa no quintal de uma casa local. Essa divisão física, fruto de paralisação da obra por falta de recursos e questões técnicas, transformou-se em uma lenda da cidade, conhecida como o “santo sem corpo”.

O projeto inicial, assinado pelo artista Franzé D’Aurora e idealizado pelo então prefeito Raul Linhares, não se concluiu em 1986. Por razões de segurança, a cabeça, montada no chão na residência do engenheiro responsável pela obra, nunca chegou a ser fixada no corpo da estátua. Com o passar dos anos, a Prefeitura de Caridade adquiriu o imóvel, onde a cabeça virou um marco local que atraí curiosos e devotos, alguns até passando a morar nele temporariamente.

Em 2021, uma nova era foi planejada para o local: a construção do Complexo Religioso de Santo Antônio, financiado pelo Governo do Ceará com orçamento de R$ 11 milhões. Prevê-se uma estátua de 36 metros, quase do tamanho do Cristo Redentor, acompanhada de capela, mirante, comércio local e infraestrutura para visitantes. Em 2024, a obra havia alcançado metade da execução, porém está paralisada desde então, gerando expectativa na população local e turistas.

A figura fragmentada de Santo Antônio ultrapassou os limites do município ao se tornar tema do livro “A Cabeça do Santo”, da escritora cearense Socorro Acioli. A obra, baseada na lenda e na realidade da estátua, narra um homem que vive dentro da cabeça oca do santo, misturando realismo mágico e cultura local. Esta narrativa foi abençoada pelo Nobel Gabriel García Márquez e está em fase de adaptação cinematográfica, com previsão de estreia entre 2024 e 2025, utilizando uma réplica cenográfica devido ao calor extremo da escultura original.

Assim, o que começou como um ambicioso projeto de monumento religioso inacabado tornou-se símbolo multifacetado: local de fé, memória coletiva, resistência cultural e produção artística, demonstrando como o improviso e a história popular podem reinventar lugares e significados.

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