Em conversa reservada com aliados, Lula deixou claro que vetará qualquer dispositivo que fixe um calendário obrigatório para o pagamento de emendas parlamentares em 2026, caso seja aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). A proposta, defendida por partidos do Congresso, garantirá liberação dos recursos no primeiro semestre, período sensível antecipado ao calendário eleitoral.
O veto vem acompanhado de uma ofensiva política contra integrantes do Centrão. Desde a derrota sofrida na tentativa de aprovar a MP que aumentaria a arrecadação via IOF, o governo iniciou uma série de cortes de cargos e exonerações em órgãos importantes, atingindo indicações feitas por partidos do bloco. Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, defendeu que “quem quiser estar no governo deverá ser voto do governo no Congresso”.
Por outro lado, o relator da LDO, deputado Gervásio Maia (PSB-PB), afirmou que manterá no relatório o cronograma de emendas para 2026, argumentando que ele dá “previsibilidade” aos parlamentares e respeita o planejamento já elaborado. A proposta determina prazos rigorosos para análise, empenho e pagamento, inclusive reduzindo intervalos para que o governo seja obrigado a pagar parte das emendas até o primeiro semestre.
Há tensão visível entre Executivo e Legislativo. O Congresso optou por adiar a votação da LDO enquanto tenta consolidar o cronograma de emendas no texto final. Já no Planalto, aposta-se que o veto será instrumento de reafirmação do poder de barganha do Executivo sobre o Orçamento.
Além da disputa técnica, o embate carrega um tom simbólico de “acerto de contas” político. Lula, alçado por elevações recentes de popularidade, parece disposto a redefinir as regras de convivência no centro do poder. O calendário de liberação de emendas é, portanto, mais que medida de execução orçamentária: é ferramenta estratégica de influência parlamentar.
Se o veto sair efetivamente, o resultado dependerá da resistência não só do relator da LDO, mas também de bancadas que articulam reação no Congresso e de como o governo conciliará cortes e sacrifícios em meio às expectativas eleitorais. A LDO de 2026 se tornou agora um teste de poder entre o Planalto e o Congresso, com repercussões para alianças futuras, negociações fiscais e o controle sobre o fluxo de recursos públicos.