O avanço dos prejuízos levou o governo federal a desenhar um resgate com contornos emergenciais para os Correios: um empréstimo de R$ 20 bilhões junto a um consórcio entre Banco do Brasil, Caixa e instituições privadas, com aval da União, condicionado a um pacote duríssimo de ajustes.
No primeiro semestre de 2025, a estatal amargou um rombo de R$ 4,37 bilhões, triplicando o resultado negativo registrado no mesmo período de 2024. Só no segundo trimestre, o prejuízo alcançou R$ 2,6 bilhões. Desde 2022, os balanços acumularam perdas: R$ 767 milhões no primeiro ano, R$ 596 milhões no segundo e R$ 2,59 bilhões em 2024.
O empréstimo serviria tanto para capital de giro quanto para custear iniciativas de contenção: demissões voluntárias, quitação de fornecedores, renegociação de passivos e aprimoramento operacional. Pela proposta em debate, metade do montante, R$ 10 bi, seria liberado em 2025, e os outros R$ 10 bi ao longo de 2026, conforme tratativas em curso.
Embora o socorro financeiro configure uma solução de curto prazo, o governo encara o movimento como necessário para evitar que o prejuízo dos Correios acabe engolindo o Tesouro Nacional, caso a estatal se torne dependente do orçamento público e seja inserida no Orçamento Geral da União. Para isso, porém, a União exigiria contrapartidas contundentes no plano de reestruturação.
Na minuta encontrada pelos interlocutores, o programa incluiria cortes de pessoal, ajustes no plano de saúde, renegociação de dívidas com fornecedores e ações para elevar a produtividade, especialmente nas rotas remotas e nos serviços deficitários. Além disso, já existe movimentação para que os Correios expandam fontes de receita, a exemplo do marketplace Mais Correios, lançado em julho de 2025 em parceria com a Infracommerce.
A estatal mantém vínculo formal com o Ministério das Comunicações e executa atividades essenciais, como envio de livros didáticos, distribuição de vacinas e suporte logístico a órgãos públicos nos municípios mais remotos. Essa vocação social torna delicada a opção pelo desmantelamento total, o que, para muitos analistas, reforça a necessidade de uma transição calibrada.
Em paralelo às negociações financeiras, o Conselho de Administração dos Correios está convocado para decidir sobre a viabilização do crédito e as cláusulas de condicionamento que acompanharão o desembolso.
O desafio será impor disciplina orçamentária e eficiência operacional sem comprometer a função pública da empresa, em especial nos locais onde não há outros serviços postais ou logísticos adequados. O risco é que, sem entrega eficaz desse ajuste, o novo financiamento se esgote antes da reorganização estrutural ser efetiva.