Aos 99 anos, morreu em um hospital particular no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, a atriz e humorista Berta Loran, uma das maiores referências do humor na televisão brasileira. Sua morte marca o fim de uma carreira que acompanhou o desenvolvimento da TV brasileira, sendo presença constante nas telas por mais de sete décadas. Berta se tornou um ícone da comédia nacional, atravessando gerações com sua leveza, talento e incomparável capacidade de fazer rir.

Nascida Basza Ajs, em 23 de março de 1926, em Varsóvia, na Polônia, Berta chegou ao Brasil ainda criança, com sua família de origem judaica. A mudança para o Brasil se deu em busca de uma vida melhor, e foi no Rio de Janeiro que Berta se encontrou como artista. Ao desembarcar, adotou o nome Berta e, em pouco tempo, adotaria o sobrenome artístico “Loran”, que logo se tornaria sinônimo de humor de qualidade e carisma no cenário cultural brasileiro. Seu pai, alfaiate e ator amador, a introduziu nos bastidores do teatro desde cedo, o que a motivou a seguir o caminho das artes.

Sua trajetória no palco começou de forma inesperada, quando, aos 14 anos, participou de uma apresentação improvisada e causou gargalhadas do público ao quebrar o salto do sapato da mãe e sair mancando, causando risos. Foi esse momento que despertou nela o desejo de se tornar atriz de humor. Com o tempo, ela se firmou como uma das maiores atrizes cômicas da televisão, do teatro e do cinema brasileiro.
Ao longo de sua carreira, Berta Loran se destacou por sua versatilidade e pela forma com que soube se adaptar às mudanças no cenário artístico. Nos palcos, passou por diversos estilos de comédia, incluindo comédias, revistas, musicais e esquetes, sempre com sua marca registrada: a habilidade em provocar o riso de forma simples, mas genuína.
Sua estreia no cinema aconteceu em 1955, quando integrou o elenco de Sinfonia Carioca, filme dirigido por Watson Macedo. Durante as décadas seguintes, participou de chanchadas e filmes de grande sucesso, como Garotas e Samba, que consolidaram sua presença no cenário cultural do país. Porém, foi na televisão que sua carreira realmente decolou, especialmente após sua entrada na TV Globo, em 1966. Berta passou a integrar programas de humor que se tornaram verdadeiros marcos na história da TV brasileira, como Riso Sinal Aberto, Balança Mas Não Cai, Faça Humor, Não Faça Guerra, Satiricom, Planeta dos Homens e Escolinha do Professor Raimundo.

Ao longo dos anos, ela se tornou uma figura fixa na televisão, participando de programas de enorme audiência e conquistando o carinho do público. Em 2012, teve uma participação marcante na última versão de A Grande Família, mostrando que, mesmo aos 86 anos, Berta ainda possuía o timing cômico e a energia de sempre.
O teatro, a TV e o cinema não eram os únicos campos em que Berta se destacava. Ela também se dedicou à arte das novelas. Em 1984, ingressou no elenco de Amor com Amor se Paga e, ao longo da carreira, passou por títulos como Cambalacho (1986), Cama de Gato (2010), Ti-Ti-Ti (2011), Cordel Encantado (2011) e A Dona do Pedaço (2019). Mesmo nas últimas décadas, quando muitos já haviam se aposentado, Berta continuou se apresentando com energia e talento. Aos 92 anos, foi uma das estrelas do show Damas do Humor e da Canção, onde dividia o palco com outras veteranas, espalhando risos e boas músicas.
Para Berta, o humor era uma filosofia de vida. Em uma de suas entrevistas, afirmou que “não pode ser perdido”, referindo-se ao poder do riso. Ela acreditava que, ao contrário de outras perdas na vida, como a perda de um amor ou de um bem material, o riso era algo que deveria permanecer conosco, independente das circunstâncias. Essa filosofia de vida a acompanhou em toda sua carreira, mantendo seu humor irreverente, mas sempre com um toque de delicadeza e sensibilidade.
Hoje, fãs, colegas de profissão e admiradores de seu trabalho se despedem de Berta Loran, com a certeza de que ela deixa um legado que jamais será esquecido. Sua trajetória, marcada pela dedicação ao humor e pelo amor à arte, continuará a ser reverenciada pelas futuras gerações, que seguirão se inspirando em sua trajetória. Berta Loran, com sua capacidade única de fazer rir, se tornou parte indissociável da memória afetiva do Brasil, uma figura que será eternamente lembrada por seu talento e pela forma inconfundível com que transformava qualquer situação em uma boa risada.
E, assim, a atriz que atravessou o tempo, resistiu aos modismos e levou alegria por onde passou, se despede deixando para trás um legado que se perpetuará em cada risada que ela provocou.