O pastor Sérgio Queiroz, procurador da Fazenda Nacional e expoente do Novo, tornou pública, ontem, a sua desistência em concorrer à prefeitura de João Pessoa, mas, ao mesmo tempo, disponibilizando seu nome para compor chapa às eleições no papel de candidato a vice-prefeito. “Prefiro, nesse momento, auxiliar alguém, contribuir, do que ser o líder principal de um projeto de eleição municipal”, afirmou, admitindo que não se considera habilitado, no momento, para assumir a linha de frente de projetos políticos diante de outras missões que tem a cumprir, como líder evangélico, na área da formação educacional e, mesmo, como “embaixador do Novo”, que deverá percorrer municípios do interior do Estado para consolidar a agremiação na qual ingressou recentemente. Enfatizou, também, a sintonia e diálogo com o PL, que tem como pré-candidato a prefeito da Capital o ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Havia uma expectativa de que o posicionamento do pastor tivesse a participação do próprio ex-ministro Marcelo Queiroga, reforçando-se, deste modo, a unidade das forças de direita para o enfrentamento eleitoral em João Pessoa. Mas, desde episódios da recente visita do ex-presidente Jair Bolsonaro à Paraíba, o “script” tornou-se indefinido para os próprios expoentes da direita, sugerindo, mesmo, a hipótese de uma dispersão. Naquela ocasião, Bolsonaro esperava anunciar a chapa Queiroga-Queiroz, mas o pastor frustrou o entusiasmo reinante ao anunciar adiamento de uma posição do Novo em relação à forma de participação na disputa deste ano. Houve rumores de que Queiroz teria se sentido desprestigiado por não constar das articulações de cúpula para ser o cabeça de chapa apoiado por Bolsonaro em João Pessoa, embora tenha tido uma votação expressiva neste território quando se candidatou ao Senado em 2022 agitando bandeiras conservadoras.
O impasse desatado entre os expoentes bolsonaristas na Paraíba, por causa da alegada fogueira de vaidades entre pretendentes à indicação para candidato à prefeitura, persistiu por algum tempo e desapontou Bolsonaro ainda na sua permanência no Estado. A impressão que ficou foi de que, nos bastidores, não houve articulação mais competente ou eficiente para possibilitar um cenário de harmonia entre remanescentes bolsonaristas locais. A crítica velada a Queiroga por se apresentar como o pré-candidato de Bolsonaro não fazia sentido porque esse “script” já era conhecido até mesmo da opinião pública desde que o ex-ministro logrou impor-se naturalmente como o ungido, destronando o comunicador Nilvan Ferreira, que buscou refúgio no Republicanos, que o confirmou como pré-candidato a prefeito de Santa Rita. Nilvan está cada vez mais próximo do esquema do governador João Azevêdo (PSB), que é apoiado pelo Republicanos, e distante, inclusive, de ex-companheiros que formaram com ele um triunvirato político – ou seja, o deputado federal Cabo Gilberto Silva e o deputado estadual Walbber Virgolino.
No final de semana, Nilvan Ferreira abriu conversações com o prefeito de Cabedelo, Vítor Hugo Castelliano, presidente do Avante na Paraíba, discutindo a viabilidade de ter em Santa Rita o apoio do partido, que tem uma vereadora como pré-candidata à sucessão de Emerson Panta. Nilvan, de resto, decidiu obstinar-se a ficar focado no seu projeto de, finalmente, vitoriar nas urnas, depois de duas derrotas consecutivas – a prefeito de João Pessoa e ao governo do Estado. Ao fazer um movimento na direção de Vítor Hugo, ele se afasta do deputado Walbber Virgolino, que foi lançado pelo PL como pré-candidato a prefeito de Cabedelo e que conseguiu levar o ex-presidente Jair Bolsonaro à cidade portuária para referendá-lo no papel de postulante. Com o “triunvirato” trincado, Queiroga ganhou fôlego para se viabilizar sem sobressaltos em João Pessoa, podendo contar com o reforço do pastor Sérgio Queiroz, dependendo de como evoluírem os entendimentos e o próprio humor de Queiroz, que tem se mostrado instável diante da dinâmica dos fatos recentes da política paraibana. O aval de Bolsonaro, por si só, era considerado fundamental para o ex-ministro tentar alavancar a pré-candidatura em João Pessoa e avançar para um patamar competitivo, possivelmente contra o prefeito Cícero Lucena (PP), diante da desarticulação flagrante que acomete, também, as forças de esquerda na Capital.
O pastor Sérgio Queiroz, de acordo com as especulações, mesmo disponibilizando-se a ser candidato a vice-prefeito numa chapa que represente a direita, estaria cortejando, no íntimo, a possibilidade de candidatar-se novamente ao Senado Federal nas eleições de 2026, quando estarão em jogo duas vagas. Escaldado com os últimos episódios, o mentor da Fundação Cidade Viva procura visivelmente regular suas ambições políticas, como alternativa para se enquadrar no contexto e sobreviver com seu projeto político conservador. A desistência dele em ser candidato a prefeito de João Pessoa não constitui propriamente uma reviravolta, por todos os atropelos que vinham permeando a sua trajetória – mas, por outro lado, contribuiu para desimpedir o caminho do ex-ministro Marcelo Queiroga, que tem duplo desafio: crescer nas intenções de voto e mostrar-se competitivo para avançar rumo a um segundo turno na Capital paraibana.
Por Nonato Guedes